domingo, 4 de novembro de 2012

Tilos – Antigo mestre espadachim- Parte 2


Naquela noite resolvi tomar um vinho numa taverna próxima de casa. Fazia sete anos desde que a Garota deixou meu agora vazio pátio de treinamento e minha casa. Ouvi notícias de assassinos da região que apareciam mortos, mas nunca ninguém soube quem fez o serviço. Eu sabia que era ela quem os matava. Eu estava sozinho na minha mesa quando ela se sentou a minha frente. Havia se tornado uma bela mulher, porém a expressão de tristeza ainda era evidente em seus olhos. Ela me olhou e disse “Encontrei a doença que matou meus pais. E só queria lhe avisar”. Eu fiquei sem reação. Ela se levantou sem mais nada dizer. Quando passou pela porta me deu um último olhar. Eu me levantei paguei minha bebida e a segui.
Até hoje não sei dizer se ela sabia ou não que eu a seguia. Eu tentava me manter nas sombras e ficar distante. Ela em nenhum momento olhou para trás. Seguiu com passos silenciosos por uma viela estreita e por fim acabou num beco úmido. Raios iluminavam o céu naquela noite nublada. Ela parou em frente a uma porta  feita de madeira velha. Abriu a porta com facilidade e entrou. Apressei meus passos e quando cheguei a porta estava entreaberta. Ouvia passos lá dentro e me assustei quando escutei algo se quebrando. Entrei as pressas.



Atravessei uma sala suja e com cheiro de  mofo, depois passei por um corredor. Meus passos ecoavam, mas o barulho era abafado pelos sons de combate que vinha de uma sala fracamente iluminada adiante. Cheguei a tempo de ver o fim da luta. A Garota lutava com um homem que deveria ter minha idade, estava mal vestido e eu sentia o mau cheiro que ele exalava de onde eu estava. Ele segurava uma espada velha nas mãos, bem diferente da lâmina fina e bem cuidada que ela segurava. Ele era forte, mas ela era graciosa ao lutar, se esquivava dos golpes dele sem o menor esforço e parecia brincar com ele. O homem se enfureceu e atacou num golpe frontal ao qual ela somente desviou e deixou o corpo dele cair sobre o dela. Vi a lâmina emergir nas costas do homem, o sangue brilhava na fraca luz das velas. O homem caiu morto no chão.
Quando ela me olhou vi novamente aquela garota que chegou ao meu lar há tantos anos atrás com suas roupas manchadas de sangue e o olhar fixo em mim. Dessa vez ela chorava e não disse nenhuma palavra. Abriu um sorriso e eu arrisco dizer que foi o mais belo sorriso que já vi. Ela se abaixou e pegou a espada daquele que assassinou os pais dela. Olhou para mim e disse “Obrigado por tudo”. Cortou a garganta com a espada.
Corri na direção da garota. Sentia as lágrimas caírem por meu rosto e se acumularem em minha barba. Vi seus últimos segundos e os olhos dela ainda me olhavam, dessa vez não havia mais aquela expressão de tristeza e o seu sorriso tão belo ainda permanecia em seu rosto. Peguei sua espada e guardei. Sai e contei às autoridades o que havia ocorrido, mas na minha versão a garota havia sido morta. Disse que a garota era minha filha e que eu mesmo providenciaria o funeral. Quando finalmente retornei a minha casa encontrei um bilhete com aquela fina e delicada caligrafia, li contendo o pranto, mas ao fim as lágrimas vieram novamente molhando e manchando o bilhete no local onde estava escrito “Foi você o único pai que eu tive na vida e agora vou ao encontro dos meus pais na morte”. Ouvi o som da chuva que finalmente veio naquela noite fria e triste.
Por Rodrigo Silva de Souza

Para quem ainda não leu, clique na PARTE I


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