terça-feira, 5 de março de 2013

Bem Vindos ao Inferno


[Matheus Marraschi]

Segue abaixo a descrição da cena que sucedeu a introdução da minha mesa de All Flesh Must Be Eaten (a introdução durou duas sessões, e a cena abaixo marcava o início da terceira). Ela apresenta parte do cenário aos personagens... Confiram abaixo :)

(...)

"Bem Vindos ao Inferno"
Tema: http://migre.me/dwuuV




Estavam há pouco menos de uma hora dentro do carro, ganhando a estrada ao sul, rumo a cidade de Nova Orleans no meio da madrugada. A escuridão da estrada era o que restava para todos, que enxergavam o pouco da mesma iluminada pelo farol. Ray tomava o volante ao lado de Miller. No banco de trás, os outros observavam atentos, procurando algo na escuridão, com exceção de Stanley, que entregou-se ao sono. Passaram dias sedados em uma célula da CDC (centro de controle de doenças) adaptada num campo militar que fazia a divisa do Estado de Louisiana com o Mississipi.

A confusão ainda tomava as mentes. Muitos dias mantidos como prisioneiros em macas os manteve distante do mundo a fora, mundo este que mudou consideravelmente nos últimos dias. As notícias tímidas, sufocadas por ordens do governo, a respeito de uma suposta infecção generalizada havia tomado uma proporção incontrolável, limitando a humanidade a ruína. Isso era desconhecido para todos ali dentro do veículo, que simplesmente ansiavam em retomar suas vidas rotineiras ao lado das pessoas que amavam. Bem no fundo, eles sabiam que a vida de outrora não existia mais, mas o pensamento lógico não os permitia acordar para realidade. Uma placa que anunciava a chegada em finalmente fora ultrapassada e ignorada na escuridão e, a partir daí, não demorou até que presenciasse o que restou de suas antigas vidas...

A estrada finalmente os levou até o distrito de Lakeview, interior ao norte de Nova Orleans. Típico conjunto de casas com gramados e cercas de madeira, lojas de conveniência e postos de gasolina entre um quarteirão e outro. A princípio nada havia sido notado, senão, movimentações suspeitas nos becos tenebrosos. Mas, poucos minutos contornando as ruas de Lakeview foram mais do que necessários para que os resquícios de desolação passassem a ser observados pelos olhos atentos de dentro do carro. Postes de iluminação apagados, ou piscando. Ruas completamente desertas e escuras. Carros parados, bloqueando algumas passagens e fazendo com que Ray desviasse pelas calçadas. Pichações religiosas que, quase sempre faziam referência ao fim dos tempos.

Dentre tantas estranhezas, uma alertou até Stanley, que ainda estava sonolento no banco de trás. Um Chevrolet Montana 2010, ainda em chamas, com a frente completamente arrebentada de frente ao que sobrou de um poste, cuja metade tombou bloqueando a passagem da rua. A escuridão da rua era levemente quebrada pelas chamas quase extintas do Chevrolet que, junto aos escombros do poste, os impediam de passar. Ray manobrava com o carro, o que exigiu tempo e paciência naquela rua claustrofóbica. Enquanto fazia a manobra, algo chamou a atenção. Uma movimentação lenta e rastejante ganhava forma na escuridão, se aproximando lentamente de todos.

A penumbra causada pela chama na carcaça do Chevrolet os revelou um homem que saía por de trás dos escombros, ele se aproximava a passos arrastados. Parte do seu corpo se resumia a carne queimada, inclusive parte da cabeça, onde não existia mais cabelo. Um violento corte em seu ventre, por onde suas tripas vazavam arrastando-se no chão, denunciava a impossibilidade de existir vida naquele corpo. Ray, impressionado, interrompeu a manobra para observar de forma catatônica o cadáver ambulante que se aproximava encarando-o com seu olhar vazio. O brutamontes voltou a realidade com os gritos de desespero por parte de todos dentro do carro. Uma manobra inescrupulosa foi feita, o carro arrebentou uma caixa de correio e parte de um cercado com a traseira, logo em seguida fora arrancado dali, deixando a fumaça dos pneus para trás.

A partir daí, os olhos ficaram mais alertas dentro do único veículo em movimento visto até então, e eles os fizeram perceber que, assim como o que fora deixado para trás, haviam mais mortos do que podiam contar. Perambulando sem rumo e serpenteando a escuridão das ruas sem vida como almas penadas, lá estavam eles, ansiando por carne fresca. Quando deixaram o distrito de Lakeview, o sol de outono já começava a se erguer por trás dos prédios. Naquele momento, o medo era o único sentimento em vigor no interior de cada corpo vivente dentro daquele veículo. Não somente o medo da destruição ou dos seres necrófilos que vagavam como bestas famintas, eles temiam por algo maior que isso. Temiam pela vida que fora deixada para trás, e que agora não passava de um belo sonho distante em dias nefastos.

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