quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Entrevista com Fernando Delangelos

O entrevistado dessa vez é o Fernando Delangelos que atualmente trabalha como editor da Rolepunkers, mas que por muitos anos foi um dos membros oficiais do blog RPG DO MESTRE.

1. Quem é o Fernando Delangelos?

Sou um professor de História que ama RPG, quadrinhos e outras nerdices. Na verdade sou um Nerd que se tornou professor de história já que o RPG e tudo mais veio antes de me decidir o que fazer da vida.




2. Como foi a sua primeira experiência com o RPG?

Eu tive um primeiro contato com magic em 97, na época eu morava em Portugal, mas eu nem sabia o que era RPG e tal. Em 98 eu vim para o Brasil e conheci uns amigos que curtiam as mesmas coisas que eu, rock, quadrinhos, videogame. Até que um dia, conversando sobre Chrono Trigger na fila da lanchonete da escola, falamos de rpg (até então só conhecíamos o RPG eletrônico) um outro colega de colégio falou: "Vocês jogam RPG?" respondemos que sim, RPG de video game. Ele soltou um "Ah, de videogame!" tão desanimado que perguntamos se havia outro tipo de RPG. Foi então que uma luz se abriu em nossas vidas rsrs.
Começamos a jogar Gurps Supers, e fizemos o caminho inverso, pois depois jogamos 3D&T. Foi ai que pegamos mais a manhã do que era RPG e voltamos a jogar Gurps, de onde não saímos até hoje. Nesses 13-14 anos ainda passamos por Daemon e Storyteller. Sempre fomos meio alheios a sistemas gringos e coisas diferentes. Recentemente, blogando, é que eu comecei a conhecer esses jogos fora do que a Devir trazia.


3. Você já sofreu algum tipo de preconceito por jogar RPG? 

Preconceito em si não. Mas sempre fui o nerd. Mas isso não só por RPG. Lia HQ na sala de aula, jogava videogame, ia pro fliperama depois da aula. Hoje, por já ser adulto rola um pouco de nariz torto quando falo que ainda faço tudo isso antes. Sinto um preconceito maior quando me veem lendo em alguma reunião do trampo ou no trem, não por serem temáticas nerds (já que leio também sobre história em si), mas parece que o pessoal tá olhando prum alien, quando eu puxo um livro do Cornwell ou as Canções de Gelo e Fogo. Como professor vejo que há um preconceito pelo uso da imaginação, o pessoal hoje não sabe o que é uma pesquisa, não leem nada que não seja forçado na escola. Porque ler se podem assistir em um filme, ou porque jogar RPG se há videogames com gráficos de última geração. Enfim... não vejo um preconceito pelo RPG em si.



4. Na sua opinião, qual é a melhor forma de lidar com o preconceito contra o nosso Hobby?

 Primeiramente deve haver união. Essa coisa de "Eu jogo sistema X e sou melhor que você" só deixa o hobby mais fraco. Eu nunca gostei de D&D, mas não fico esculachando quem joga, já teve jogador de D&D se juntando a minha mesa de Gurps. Claro que brincadeiras entre amigos é outra coisa. Mas briga dentro do hobby só afasta as pessoas
O preconceito contra jogadores novatos e/ou novos de idade também é uma idiotice, se você não ensinar o pessoal a jogar em breve não vai ter mais rpgistas por ai. Além disso, se você não tiver paciência de explicar o que é RPG, as pessoas sempre vão ficar desconfiadas por ser algo diferente.

5.O que você acha do embate Old School versus New School e você defende algum por algum dos lados?

Nunca entendi isso de New School e Old School. Pra mim RPG é RPG. Para mim não existe essa de RPG old school, o estilo é imposto pelo mestre e pelos jogadores, então pode variar a cada novo jogo, quiça a cada nova sessão de jogo dependendo da abordagem do mestre. Eu estou do lado de que quanto mais RPG jogar melhor.

6. O que te motivou a fazer parte de um blog sobre RPG?

A vagabundice rsrs. Tinha vontade de escrever sobre RPG, compartilhar ideias e absorver outras. Escrever um blog de RPG é muito além de traspor suas ideias e sim trocar figurinhas com um monte de gente, uns que jogaram mais, outros menos, uns que jogaram jogos diferentes e tem novas ideias a acrescentar. Essa inteiração é bem bacana. Na época que escrevia na Taverna do Goblin e depois no RPG do Mestre eu gostava muito de ler os comentários, abrir uns debates bacanas e por muitas vezes esses comentários ou um post de outro blog te dava ideias para mais posts o que  integrava todo o pessoal.

7. Como você enxerga o mercado nacional na atualidade?

Bem melhor do que a tal era de Ouro que insistem em chamar o fim dos anos 90 e inicio dos anos 00 onde tínhamos Gurps. D&D, Storyteller,  e jogos nacionais tínhamos o 3D&T e, com menos força, o Daemon e Tagmar. Outros jogos fora disso tinham que ser importados. Hoje temos 3 editoras pequenas, mas em plena atividade, a Retropunk, Redbox e a Secular que, além de trazerem cada uma jogos próprios (Terra Devastada, Old Dragon e Violentina respectivamente, ainda conseguiram trazer jogos gringos bem bacanas como Fiasco, Shotgun Diares e Dungeon World. Além disso temos a Jambô em plena força com os títulos da linha Tormenta RPG, que, apesar das criticas, foi um jogo que atingiu um bom público, além do Dragon Age RPG. A Devir, apesar de todas as críticas, inovou com algumas noticias, como o lançamento d'O Um Anel e o relançamento de Castelo Falkenstein. E ainda temos outras editoras tentando seu lugar ao sol como a Unza, Icaro e outras que ainda vão trazer novidades e surpreender.
O público voltou a crescer, pelo menos em todos os eventos que fui vi jovens com menos de 18 anos jogando. É por isso que temos que deixar de mimimi e de brigar entre nós mesmos e atrair um novo público.

8. Qual o seu sistema de regras e cenário favorito e porque?

Essa é uma pergunta que hoje acho difícil responder. Se me perguntasse isso há um ou dois anos atrás eu responderei Gurps, pelo flexibilidade do sistema e por poder jogar tudo e conseguir criar tudo dentro dele. Afinal foi o sistema que joguei por quase 14 anos. Mas hoje me sinto atraído por três sistemas da Retropunk o Rastro de Cthulhu, o Terra Devastada e o Este Corpo Mortal. Acho difícil dizer qual deles é o meu favorito já que cada um tem sua característica própria. Mas, seguindo minha lógica, o sistema Acepção de Terra Devastada é o que eu tenho preferido trabalhar, devido a flexibilidade dele. Na edição 3 da Rolepunkers, o John e eu trabalhamos com as regras de Acepção para o universo de supers com uma adaptação de Vingadores e pretendo trabalhar com o sistema no universo medieval, tentando até mesmo criar um cenário próprio para ser usado com ele.
Este Corpo Mortal também possuí uma flexibilidade enorme, principalmente devido a seu sistema de narrativa compartilhada. É só ver o que o pessoal dos blogs punks têm criado em cima do sistema, têm adaptação até para Lanterna Verde.

9. Como surgiu o convite para fazer parte da Retropunk e como tem sido a experiência?

Ninguém me convidou não. Eu que sou intrometido. rsrsr
Bem, é uma longa história, mas comecei a conversar com o Guilherme Moraes quando ele gravou um podcast conosco na época do RPG do Mestre, ai começamos a trocar ideia via msn. Quando saiu o Rastro de Cthulhu ele lançou também uma revista digital chamada Rolepunkers, mas não conseguiu levar o projeto adiante. Então eu vi ali uma oportunidade de continuar escrevendo sobre RPG, mas ao mesmo tempo saindo da ideia de blogs, da qual eu já estava  um pouco saturado. Juntei meu fiel escudeiro e pau para toda obra, Fábio Silva, que topa todos os projetos loucos que tenho (e executa grande parte já que ele ilustra, diagrama, escreve etc) e fizemos um versão de teste para a Rolepunkers e mandamos pro Guilherme. Ele aceitou, acertou uns detalhes, neste ponto contamos também com a ajuda do John Bogéa (outro fera faz tudo do RPG nacional) e começamos a fazer a revista digital da Retropunk, que já está para sair a 4º edição.
Depois disso outros trabalhos começaram a surgir na Retropunk, como tradução (traduzi o Time & Temps e um cenário de Este Corpo Mortal chamado Divindade ainda inéditos) e depois assumi a parte de contato entre a Retropunk e Blogs e por fim o contato aos eventos de RPG que rolam por ai e demostram interesse em apoio da editora.
Não dá para viver de RPG ainda, mas já dá para bancar uns livros.
Ah sim, eu também fiz a aventura oficial do 1° Retropunkers Day para Terra Devastada.

10. Atualmente você está jogando? Se sim, o que?

Atualmente jogar está complicado devido ao tempo do pessoal do grupo. Mas quando dá para marcar algo tentamos levar uma campanha de Gurps Supers no estilo Exilados da Marvel ou uma de Rastro de Cthulhu. Sempre que dá estou participando do Dungeon Carioca, um evento de RPG no rio. Ai o que joga varia muito já que em geral são mesas One Shots, da última vez joguei uma mesa de Caverna do Dragão para Old Dragon e pretendo nas próximas estar jogando  Fiasco ou marvel RPG.
Agora notei que só tenho jogado. É bom tirar um pouco de férias de ser mestre.

11. Quais as dicas fundamentais que você pode deixar para os Mestres iniciantes que leem o blog?

Não tenham medo de experimentar, se não tentarem nunca vão conseguir. Ouvir criticas é bem importante, então converse com os jogadores sobre o que eles querem jogar e o que esperam da campanha. E não tentem auto impor um estilo de narração. Narre da forma que achar mais correto e vá adaptando aos poucos com uma ou outra dica.
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12. Atualmente, estamos com mais de 12.000 seguidores, gostaria de deixar alguma mensagem a todos eles?

Joguem, se divirtam. É jogando que vamos fazer o Hobby crescer e as editoras produzirem. Com mimimi, provocações  e picuinhas o RPG só tem a perder.



13.. Quais são os seus projetos futuros com relação ao hobby?

Poxa, eu sou tão parado com isso. Converso com um monte de blogueiro e sempre vejo eles falando que estão com projeto X, Y ou Z e eu não tenho nada rsrs. Não tenho saco de ficar criando sistema, ainda bem que tenho um monte de gente que faz isso pra mim. O que tenho pela frente de concreto é a Rolepunkers ( a edição 4 está quase indo pra revisão final) e um hack medieval para o sistema Acepção (Terra devastada), a principio para publicar na rolepunkers, mas se valer a pena eu tento (re)escrever o cenário de fantasia medieval que usamos aqui para jogar e ver o que sai, é só sobrar tempo. Além disso tem os trampos com a Retropunk que ai depende do que tem a ser feito, traduções etc e tal. Ah, e eu gostaria muito de ver acontecendo um evento grande de RPG decente aqui no rio, quem sabe eu não tente fazer algo.

Obrigado ao Fernando por ter aceitado responder a algumas perguntas e espero que tenham gostado.

Dúvidas e críticas construtivas são muito bem vindas...

Sucesso decisivo a todos!




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